Meu nome é João
Meu nome é João da Silva
Meu nome é João Almeida dos Santos Prado
Meu nome é João Alemão
Meu nome é João Guimarães
Meu nome é João Cabral
Meu nome é João Camões
Meu nome é João Goulart
Meu nome é João
Meu nome é Antônio
Meu nome é João
Meu nome é João
Meu nome é João-ninguém
Meu nome é João bobão João Francisco A. Enomoto11:19 PM
segunda-feira, setembro 29, 2003
Identidade
Somos um vazio,
procuramos um porquê.
Disperdiçamos:
matamos o tempo,
o tempo nos mata.
Hipocrisia,
até quando?
Somos o quê?
Somos um quê,
o vazio das palavras.
Somos um vácuo,
a existência existe?
Perguntamos,
por que?
Perdemos
Um nome,
uma foto,
um papel verde,
uma assinatura,
Somos.
Somos,
por que procuramos?
Aqui está:
mesmo assim nem todos tem.
Identidade. João Francisco A. Enomoto9:35 PM
quarta-feira, agosto 20, 2003
Crônica que não aconteceu
Eu estava andando pela Rua Tamandaré, quando vi uma pessoa jogando uma lata pela janela do carro, indo de encontro com outros lixos no canto da calçada. Fui até ele e pedi que pegasse a lata de volta e colocasse numa cesta de lixo. Ele puxou o revólver e me deu um tiro. João Francisco A. Enomoto3:22 PM
segunda-feira, agosto 11, 2003
Corrupção
Um real
Dois reais
Quatro reais
Oito reais
Dezesseis reais
Trinta e dois reais
Sessenta e quatro reais
Uma função para tanto dinheiro
Tanta gente sem função
Um real
Onze reais
Cento e vinte um reais
Mil trezentos e trinta e um reais
Quatorze mil seiscentos e quarenta e um reais
Todos os reais
Nem Pascal e Tartaglia
Possuem números
Para tanta hipocrisia João Francisco A. Enomoto10:48 PM
sexta-feira, julho 18, 2003
Para amar
Num breve instante estava eu à praia
O sol se escondia aos poucos no horizonte
Cenário esplendoroso que me entorpecia
Trazia à tona lembranças outrora distantes
Aquele calor enchia o peito de um amante
De um amor que era como eterna chama
Abraços eram a eternidade de cada instante
Beijos o alimento por quem os lábios clamam
Tão dificil explicitar tudo em tão poucos versos
Sentimento que nem mesmo o coração entende
Resume-se no valor de seus quentes beijos,
Um prazer tão único que os lábios sentem.
Em versos ensino os sentimentos, sou professor
Enquanto sigo olhando cegamente para o mar
Ensinando nestes poucos versos o valor do amor
E mostrando o valor de se ter alguém para amar João Francisco A. Enomoto2:39 AM
terça-feira, julho 15, 2003
Ensaio sobre o Universo
De novo a sós, eu e os plúmbeos céus.
Não há de demorar para que tudo se feche em breu,
Tanto o céu quanto a mim.
Enquanto aguardo o anoitecer eu penso
Penso o que mudou e no que mudei
Se um dia voltarei a ser o que era
Se sentirei de novo aquele gosto
Se dançarei a valsa que nunca dancei
Se...
Que me importa, hoje me sinto um novo ser
Melhorado, forte, determinado, alto
E com o coração mais negro que a noite.
O que aconteceu, pergunto a meu coração.
Ainda estás ai? Dê um sinal de piedade
Ao pobre poeta que se sente só.
Não apenas abandonado pela amada
Mas abandonado pela poesia.
Outrora fora o que me movia, hoje que és?
Devagar meus amores aparecem no céu.
Encobertos pelas nuvens da vergonha de amar,
Do desejo da carne simplesmente e outras,
Muitas estrelas deixaram de brilhar no meu céu.
Quantas são? E quais estrelas eu posso dizer
Que realmente estão no céu, e não suas luzes
Moribundas que impressionam olhos tão facilmente
Impressionáveis.
Que me importa o passado. Passado é mal não
Cauterizado, nódoas não apagadas, passado é
[passado.
Importo-me sim com as estrelas que hão de nascer,
Cujos brilhos hão de ofuscar meus olhos por longo tempo.
Até findarem-se e meu céu estar tão cego quanto eu.
Da minha vida nada sei, porque não enxergo ou me
[recuso
A enxergar o que é realmente certo.
Talvez porque meus olhos se limitem a ver o que esta
Mais perto de mim.
Fato é que com os olhos da alma eu enxergo
O céu mais estrelado, a vida ganha novo sentido.
E vejo tantas estrelas, que poderiam ser minhas
[meninas
Mas não há sentido ou porquê.
A conclusão é que se chega é que não devo procurar
Cegamente as estrelas por quem me apaixono
Mas sim procurar a Lua da minha vida. João Francisco A. Enomoto3:38 AM
segunda-feira, junho 16, 2003
Sermão do Mandato
"Tão inteiramente conhecia Cristo à Judas, como a Pedro e aos demais; mas notou o Evangelista com especialidade a ciência do Senhor, em respeito de Judas, porque em Judas mais que em nenhum dos outros campeou a fineza de seu amor. Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: 'O amor fino não busca causa nem fruto.' Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há de ter por quê, nem para quê. Se amo porque me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo quia amo, amo ut amem: 'Amo porque amo, e amo para amar.' Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino. E tal foi a fineza de Cristo, em respeito de Judas, fundada na ciência que tinha dele e dos demais discípulos."
Pe Antônio Vieira João Francisco A. Enomoto11:41 PM